A paixão desenvolvida desde a infância aliada a grande doses de adrenalina, fez com que várias crianças insistentemente pedissem ou até mesmo, implorassem aos seus pais um cavalo de presente. E por que não, um cavalo de salto!?
Certamente com sacrifício econômico, vários pais, se privando de uma vida mais tranqüila, proporcionaram essa emoção para os seus filhos que, abdicaram da viagem para Disney, da festa de quinze anos e outros prazeres da infância e adolescência para compartilharem todos os dias as alegrias, dificuldades e superações que este esporte vivo nos oferece.
Nada é mais gratificante para um pai do que ver o seu filho sorrindo, feliz, seja saltando 60 centímetros ou em competições de alto nível internacional. Nada conforta mais uma criança do que poder entregar aos seus pais a medalha, depois do tão “sofrido” e sonhado galope da vitória. Este é o fim precípuo, o objetivo maior.
Porém, neste caminho nem sempre tão tranquilo, podemos observar que muitas vezes o amor inicial ao cavalo, animal que tanto atraiu a criança despertando um brilho nos olhos, se perdeu em confusas definições do que sejam vitória, competição e competência. Lamentavelmente vemos muitos pais frustrados e crianças tristes, necessitando desesperadamente alcançar um resultado que, por várias vezes, ainda não estão preparados para obter.
As competições se tornam tormentas e o animalzinho tão querido, acaba se tornando um inimigo. Longe de ser compreendido como um companheiro que merece todo carinho, atenção e principalmente respeito.
A cobrança seja dos pais ou até mesmo da própria criança, como um ser único e em desenvolvimento emocional, faz com que as fases de aprendizado sejam ultrapassadas. Já o processo de conhecimento e evolução técnica são abortados, exigindo resultados imediatos, quase uma medida de emergência, como se a sua vida dependesse do resultado de uma simples prova de fim de semana. Nessa pressa angustiante, perde-se a serenidade e são afastadas as alegrias sendo substituídas pela eterna preocupação do resultado.
Para ver os filhos felizes, os pais compram cavalos inadequados e muitas vezes caros, esperando resultados impossíveis e imediatos. Em contra partida, para ver os pais satisfeitos, os filhos abandonam os conhecimentos técnicos e passam a ter atitudes até mesmo agressivas e ineficientes com quem deveria ser o seu maior aliado, seu amigo, seu companheiro, seu adorado cavalo.
Nesta relação de crescimento e evolução, podemos suprimir esse processo dolorido. É preciso apenas entender algumas regras imutáveis no hipismo, regras já consideradas dogmas, algumas delas são:
– Nada é de graça, todo resultado pressupõe dedicação, conhecimento, disciplina e técnica. Podemos vencer algumas provas com ajuda da sorte e de bons animais, porém, isso não nos faz bons cavaleiros, precisamos de treinamento diário com o máximo de dedicação, aliada a técnica extraída de bons profissionais, preocupados em formar cavaleiros e não apenas em conseguir resultados.
– Tudo tem seu tempo. Não se aprende o hipismo em um ano, dois anos, ou mais, apenas iniciamos uma longa jornada de evolução. Estes anos são apenas os primeiros passos de uma criança, ninguém, nem mesmo cavaleiros espetaculares adquiriram a arte da equitação em curto espaço de tempo, cuidado com isso, é ilusão.
– Quem tem um bom cavalo, tem apenas um bom cavalo e isso não o torna um bom cavaleiro. Um bom cavaleiro sempre poderá obter o melhores resultados de cavalos não tão brilhantes, mas um mau cavaleiro não obterá regularmente bons resultados, muitas vezes com cavalos brilhantes.
Nosso esporte é maravilhoso. Desfrutá-lo é um privilégio para poucos. Estar em contato com a natureza em sua forma viva, sentindo um animal retribuir toda a nossa dedicação e amor, é uma experiência que com certeza nos faz mais humanos e nos coloca ainda mais próximos de Deus !
Vamos aprender a aproveitar com alegria os momentos em que dois seres vivos interagem e fazem literalmente um conjunto de emoções.
Daniela Ribas Rocha, amazona e diretora da Sociedade Hípica Paranaense.